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Acordão fere principio básico da blockchain?

Na terça-feira, 23 de maio, o blog oficial do Digital Currency Group publicou um acordão sobre a escala da rede do Bitcoin, sob a qual um grupo de 56 bem conhecidos representantes da indústria assinaram.

Na terça-feira, 23 de maio, o blog oficial do Digital Currency Group publicou um acordão sobre a escala da rede do Bitcoin, sob a qual um grupo de 56 bem conhecidos representantes da indústria assinaram. Mas é realmente possível dizer que um consenso foi alcançado? As opiniões sobre esta questão estão divididas.

Lembre-se que a questão da escala da rede do Bitcoin tem sido uma das mais agudas e urgentes por um longo tempo: no contexto de crescimento exponencial do ecossistema e o influxo de novos investidores e usuários, o Bitcoin, do ponto de vista técnico, está muito próximo de seu limite. Pelo menos, é o que muitas pessoas do meio alegam.

Em parte, isto é confirmado pelos casos cada vez mais frequentes em que um grande número de transações continua a não ser confirmada, o que por sua vez, leva a um aumento forçado do tamanho das comissões por parte dos utilizadores.

Ultimamente, as de propostas para abordar a questão aumentaram, e muitas soluções magicas foram apresentadas, entre elas o SegWit, que se tornou uma das mais populares. O protocolo foi incluído no protocolo do Bitcoin Core, mas sua ativação, por razões “políticas” óbvias, ainda não aconteceu – um grupo de defensores da solução alternativa Bitcoin Unlimited estava no caminho.

Até recentemente, a sua oferta foi reduzida a um método mais radical para resolver o problema: aumentar o tamanho do bloco para pelo menos 8Mb, o que, entretanto, tem o potencial de levar a um hard fork da rede, e isso, com certeza acarretaria na divisão da blockchain. 

E, embora a maioria da comunidade não concordasse com essa abordagem, as grandes capacidades de rede dos apoiadores do Bitcoin Unlimited permitiram, até recentemente, bloquear efetivamente a ativação do Segregated Witness.

Consenso 2017

Barry Silbert, chefe do Digital Currency Group, organizou pela primeira vez uma mesa redonda com a proposta de pacificar os apoiadores de ambas as partes e, se possível, criar um dialogo que levasse a uma solução que agradasse ambas as partes. Porem, nenhum detalhe dessa reunião se tornou publico, ate o momento da escrita desse artigo pelo menos.

Os primeiros rumores não confirmados sobre os resultados da reunião foram publicados na segunda-feira, e esta informação era quase idêntica ao que foi publicado na noite de terça-feira.

Ironicamente, isso aconteceu durante a conferência Consenso de 2017, mas podemos realmente falar sobre “consenso”, que se chegou de fato a um consenso? Quando você estuda cuidadosamente a questão, verifica-se que as coisas não são tão simples, e dizer que a comunidade encontrou uma maneira de sair da situação atual é algo, pelo menos um pouco, prematuro.

Lado técnico da questão

O tal acordo assume a ativação do SegWit após 80% dos mineiros começarem a sinalizar seu suporte para o protocolo (anteriormente esse valor mínimo era de 95%).

Além disso, propõe-se aumentar o tamanho do bloco para 2 Mb. Isso levará seis meses e o SegWit já deverá estar ativado por esse tempo.

De acordo com os envolvidos no tal acordo, seria utilizada a solução Segwit2Mb (que combina soft fork/hard fork), expressa no final de março pelo CEO e principal desenvolvedor do RSK Labs Sergio Damian Lerner.

Entretanto, vários desenvolvedores do protocolo Bitcoin, em suas redes sociais, expressaram seu desacordo com essa ideia.

O próprio Lerner confirmou que o RSK Labs desempenhará um papel no processo, mas provavelmente não estará envolvido na confecção do código.

“Concordamos em auditar o código”, disse ele.

O acordo publicado não contém nenhuma referência ao código, mas até onde se sabe, presume-se que os mineiros irão sinalizar um pouco sobre o suporte da oferta, incluindo transações de coinbase em novos blocos – o procedimento padrão em geral ao implementar novas atualizações de rede.

“O SegWit deverá ser ativado imediatamente e, no futuro, em uma determinada data X, o mesmo bit relatará um tamanho de bloco de 2Mb. Assim, dois eventos ocorrerão no mesmo bit”, disse Jeff Garzick, CEO da Bloq, cuja assinatura também está no tal acordo.

Apoio, suporte

De acordo com Barry Silbert, entre aqueles cujo apoio ele garantiu, as principais figuras da indústria do Bitcoin como a BTCC, a Bitfury, a BitFlyer e a Coinbase. No entanto, é mais notável que a Bitmain e o Bitcoin.com também entraram nesta lista – nos últimos meses os dois foram os mais fervorosos apoiadores do Bitcoin Unlimited.

Ao mesmo tempo, é necessário observar alguns outros pontos. Em primeiro lugar, é surpreendente que a decisão tenha sido essencialmente tomada a portas fechadas sem uma ampla discussão aberta.

Em segundo lugar, a ausência entre os signatários do texto de uma parte significativa dos principais desenvolvedores do Bitcoin Core e da Blockstream, os principais contribuintes do código base do Bitcoin, é impressionante. A Blockstream está incluída na carteira de investimentos do Digital Currency Group.

Como resultado, o texto final do acordo não reflete as opiniões dos dois adversários mais irreconciliáveis ​​nas discussões sobre o escalonamento da rede do Bitcoin.

Como observou o CEO da Italian Blockchainlab, Giacomo Zucco, a empresa líder no setor de segurança Bitcoin e o provedor da carteira BitGo, foi erroneamente relatado como estando entre os signatários do acordo. Depois de um tempo seu nome foi retirado da lista.

Resposta da comunidade

A primeira reação dos representantes da comunidade mostra também que o consenso declarado não passa de um desejo de dar um ar de legalidade a uma decisão imperialista, tomada por meia dúzia de pessoas que se acham melhores e mais entendidas que as outras.

“A BitFury, como a grande maioria da comunidade, apoia plenamente esta decisão histórica, que é um momento muito importante para o ecossistema, uma vez que esta decisão abre um novo capítulo na tecnologia Bitcoin”, afirmou Valéry Vavilov, CEO da BitFury em um comentário outra publicação digital.

Além disso, Charlie Shrem, que antes dele defendeu ativamente a ideia de ativação do SegWit, e Gavin Andresen, um dos principais desenvolvedores do Bitcoin Core, também expressaram seu apoio ao acordo.

“Este é um evento importante, pois reflete a opinião da maioria dos representantes empresariais e da comunidade de mineiros que sabem o que seus usuários querem”, disse Shrem.

No entanto, as vozes dos críticos soam muito alto também, o significado geral de suas declarações é reduzida a dificuldades técnicas com a implementação da proposta e a rejeição da própria ideia de hard fork.

Por exemplo, o Diretor de Assuntos Estratégicos da Blockstream, Samson Moe manifestou seu desacordo com as declarações de que o documento assinado realmente reflete a opinião da maioria crítica da comunidade necessária para determinar o desenvolvimento futuro do Bitcoin.

A comunidade técnica e, um número bastante grande, de usuários já disseram que não há necessidade de poder maciço. Esta proposta nos traz de volta ao passado, para o que já foi discutido há algum tempo”, disse Moe.

Um ponto de vista semelhante é compartilhado por Matt Corallo, o desenvolvedor do Chaincode e um dos colaboradores do Bitcoin Core:

“Estou decepcionado que o feedback de todos aqueles que trabalharam no protocolo Bitcoin e foram  completamente ignorados. Eu proponho tecnicamente maneiras mais realistas de atingir o mesmo objetivo.” – ele escreveu no chat DCG.

Simultaneamente, Corallo expressou sua opinião nas redes sociais, dizendo que tal acordo só atrasaria o desenvolvimento do Bitcoin:

Donald McIntyre, empresário e fundador da Naation, acredita que, por causa de algum “compromisso político”, está em jogo todo o ecossistema do Bitcoin, um ecossistema que agrega vários bilhões de dólares:

Giacomo Zukko, já mencionado acima, disse ainda mais acentuadamente, que no futuro ele pretende evitar estritamente quaisquer relações comerciais com as empresas que assinaram este acordo:

O acordo também foi criticado por Ragnar Liftrasir, presidente da Associação Internacional de Cadeias de blockchain (IBREA). Em resposta ao tweet de Georgy Kikvadze da BitFury, em que felicita todos pela assinatura do acordo, o chefe do IBREA escreveu:

“Este é um negócio feito por trás, nos bastidores. Em projetos de código aberto, o consenso não é alcançado dessa maneira”.

Apesar da enxurrada de críticas, os signatários do acordo esperam que a comunidade ainda adote um novo protocolo após o hard fork, embora esse desenvolvimento realmente conduza à criação de um “novo Bitcoin”.

Se este cenário é viável ainda não é possível prever, mas, não resta dúvida do fato de que uma parte significativa da comunidade se recusa a aceitar hard fork. Outro desenvolvimento possível é a ativação da solução UASF (soft fork ativado pelo utilizador), que envolve a ativação forçada do SegWit através de um chamado “voto de utilizador”, isto é, os detentores de nós completos.

Assim sendo, a oposição de partidários de abordagens diferentes para o desenvolvimento do Bitcoin, aparentemente, continuará.

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